quarta-feira

Watch your Language (Ethan Schutz)




O que vos vou apresentar de seguida não é o resumo de um livro mas praticamente a tradução de um artigo elaborado pelo filho do criador do The Human Element, uma metodologia poderosa usada para autoconhecimento e trabalho em equipas à qual recorrem várias organizações como a NASA e os Marines Americanos.

Aumentar a produtividade assenta em nos percebermos e em trabalharmos bem uns com os outros. Nessa tentativa muitas vezes acreditamos que devemos sempre falar a bem, respeitosamente e de forma polida. O problema é que muitas vezes não dizemos o que realmente queremos mas as pessoas percebem essa discrepância, pois não é só por palavras que comunicamos. Nessa tentativa de tratar os outros bem acabamos por magoar relações e afectar negativamente as organizações.

“Quanto não quero magoar o outro mudo o que digo e acabo por não dizer o que realmente quero. Perco o poder das palavras apesar de momentaneamente ser mais fácil para mim.”


A - ERROS COMUNS DE LINGUAGEM

1 – FALAR PELOS OUTROS
“Toda a gente faz...”
“Nós sentimos que...”
“Quando estás numa situação...”
“O grupo sente...”

Falar pelos outros distancia-me do que acredito e sinto, em vez de os clarificar.
Em vez de “Nós sentimos”, passe a dizer “Eu sinto”.


2 – GLOBALISMOS
“É apenas como as coisas aqui são...”
“O ser humano é assim...”
“Não consigo comunicar com as pessoas...”

Estas expressões não permitem que nada de específico se siga a elas. Muitas vezes mascaram sentimentos.
Em vez de “Eles nunca consideram as nossas necessidades”, passe a dizer “Eu estou magoado com o que fizeram”.


3 – PALAVRAS DE “NÃO-COMPROMISSO”
Algumas palavras parecem ter sentido mas escondem opiniões, como:
“interessante”
“diferente”
“curioso”
“estranho”
“engraçado”

Quando digo “é interessante” o que sinto sobre o assunto (gosto, não gosto, etc.) é escondido. Quando falta o sentimento é difícil alguém responder ou continuar o diálogo, pelo que a conversação tende a ficar por ali.


4 – FRASES E PALAVRAS DESENCORAJADORAS
Ajudam-me a evitar responsabilidade ou a negar que tenho escolhas. Muitas vezes expressam as minhas crenças:
“Não consigo”
“Tenho que”
“Preciso de”

Passam a ideia de que algo está para lá do meu controlo. Em vez de “Não consigo ir à reunião” diga “Escolho fazer algo diferente do que ir à reunião”.

Ao dizer “não posso” não estou a aceitar a responsabilidade pela escolha que faço e não estou a ser honesto com o outro. Isto provoca “erosão” na relação.

A frase “Não sei” muitas vezes quer dizer “não quero mais pensar nisso”. Esconde muitas vezes raiva ou vergonha e bloqueia a comunicação.


5 – USAR QUESTÕES PARA FAZER DECLARAÇÕES
Muitas vezes fazemos afirmações disfarçadas em questões, pois assim não assumimos a responsabilidade.
“Achas que é a coisa correcta a fazer?” significa muitas vezes “acho que estás a fazer mal”.
Ou “queres mesmo ir a esse restaurante?” significa “não quero ir aí”.


6 – “EU SINTO” vs “EU PENSO”
“Eu sinto” é muitas vezes usado no lugar de “eu penso”.
“Sinto que estamos a demorar muito a decidir”. É na realidade um pensamento. O sentimento por traz pode ser frustração, chatice, tristeza, etc.

Sempre que uso a frase “sinto que” estou a explicar um pensamento como se fosse uma emoção.

Mais eficaz é dizer a emoção e a emoção: “estou frustrado por a decisão estar a demorar”,


7 – DOWNPLAYING
Palavras ou frases que diminuem o impacto da minha posição e que reduzem a minha responsabilidade pelas minhas escolhas:
“por vezes”
“talvez”
“uma espécie de”
“uma forma de “
“podes não concordar mas”
“aposto que”
“posso estar enganado mas”

Todas estas me dão uma escapatória e evitam que assuma uma posição firme.


8 – LINGUAGEM BASEADA EM VALORES
Implicam que existe uma forma correcta de fazer algo:
“Devia”
“Tenho que”

Isto retira-me a responsabilidade pelas minhas preferências mas coloca as minhas opiniões e crenças como a única via de acção.

Quando as uso estou a dizer as minhas preferências ou a defender-me de medos que tenho, ou ambos.

Ex: “As pessoas não se devem interromper” pode querer dizer “prefiro que cada um deixe os outros falar sem interromper porque é um sinal de respeito por cada pessoa”, ou então, “se me interrompem fico com medo de não ser ouvido ou ser “passado por cima””.


B – COMUNICAÇÃO EFECTIVA
Para ser efectivo tenho que saber como dizer o que quero claramente e directamente. A comunicação “poderosa” acontece quando:
1 – Digo o que experiencio (sou aberto)
2 – Assumo a responsabilidade

Sou aberto quando comunico a minha experiências -> pensamentos, sensações, memorias, crenças e intenções:
“Noto que...”
“A minha opinião é...”
“Penso que...”

Sou auto-responsável  quando estou consciente das escolhas que faço e as comunico aos outros.

DICAS:
-       ouça-se a si próprio;
-       ouça os outros
-       reflicta
-       olhe mais fundo:
“Sei o que realmente penso da situação?”
“Sei o que realmente sinto?”
“Estou desconfortável com os meus pensamentos/sentimentos?
“Tenho medo de algo? Que algo de mau aconteça?”

 Até breve e vá comunicando o que pensa e sente sobre este blog! Sinto-me bem quando ouço notícias suas! :)

5 comentários:

Yonara disse...

Olá Vasco! Muito obrigada pela gentileza destas partilhas! Estava bastante curiosa para saber mais sobre este livro, desde o momento em que iniciou a votação. Achei a abordagem muito interessante (cá está uma palavra 'interdita' do ponto de vista do autor), mas não concordo com alguns dos pontos, até porque contradizem o que sempre se falou desde que surgiu o conceito de comunicação assertiva. Como formadora, fico um pouco confusa, já que falo geralmente sobre a importância de exprimirmos os nossos sentimentos e opiniões de forma aberta mas sem ferir os sentimentos e opiniões dos outros. Isto implica quase sempre ligeira máscara sobre a forma como dizemos as coisas, certo?

Vasco Gaspar disse...

Olá Yonara,

Muito obrigado pelo feedback!

Percebo o que diz e concordo consigo, mas não vejo como isso entra em contradição com o autor.

Lá por ele dizer que não devemos "mascarar" o que pensamos e sentimos, não quer dizer que devamos magoar os outros. Há formas de dizer as coisas de uma forma, como disse, assertiva.

Conhece o método do Non Violent Communication (existe um breve resumo aqui no site)?

Este é um método que está muito alinhado com aquilo que entendi do artigo do Ethan Schutz e onde é possível ser assertivo, dizer exactamente o que penso e sinto e nunca "beliscar" o outro.

O que lhe parece?

CCoelho disse...

Olá Vasco!

Obrigada pela sua partilha. De facto concordo um pouco com a Yonara e percebo o ponto de vista do autor, mas não estamos nós desde criança programados para mascarar os nossos sentimentos? E porquê? Porque a nossa sociedade chegou à conclusão de que quem é verdadeiro nos seus sentimentos (ainda que sem beliscar os outros), está vulnerável à avaliação e à crítica. Tanto mais, quando se fala num plano empresarial, é certo de que a última coisa que queremos é ser vulneráveis! Qualquer das maneiras gostaria que me elucidassem melhor sobre outros pontos de vista discordantes do meu. :) Cumprimentos e bom trabalho!

Vasco Gaspar disse...

Olá Cecília,

Obrigado pelo comentário!

Percebo o seu ponto e sem dúvida que a sociedade nos "cria" dessa forma.

A questão que lanço é: haverá alguma relação entre as "agendas escondidas" e a crise que vivemos actualmente?

Fica a questão no ar. ;)

Cumprimentos,
Vasco

Amélie disse...

Olá, Vasco!

desde já os meus agradecimentos por este artigo do Ethan Schutz...vem mesmo a propósito de da "catequização" que actualmente tento efectivar no meu próprio ambiente de trabalho!
As falhas de comunicação, infelizmente, podem conduzir à ruína de uma empresa...obrigada e um excelente 2011

Inês Mendes da Silva